11 de janeiro de 2014

Sonhei




Sonhei, um velho amigo me via
quase um fantasma, transparente.
Daquele tempo que me comovia,
quero distante, rente.

Pedia em súplica, uma promessa:
que não houvesse permissão
para em nada mudar e, não nos acovardasse
nestes ataúdes abandonados, separados.

Prometia ficar. Eu dizia algo aqui:
a sonhar não quero ficar,
pesadelos podem sucumbir. Daqui
incerta já não sabia, ou sei, explicar.

Passado imperfeito não mudaria,
me diziam, mesmo se o tempo mudasse,
em minhas inconstâncias, choveria.
Distante o sonho dói, perto apenas me destruíria.

Poderia eu acordar, por um instante. Agora,
resta uma metáfora distorcida daquele amor
incerto do que se fora outrora,
fantasma insistente de um outro novo amor.

Sonhei, uma brisa mudou minha direção,
bagunçou minha tristeza (e certezas)
acordei já sem coração, inquietação…
ele se foi, mudou-se com a brisa.


Andrea Chernioglo
jan 2014

23 de abril de 2013

Velho fantasma, e eu?


São Paulo, 23 de abril de 2013

Velhos fantasmas me visitam
se acomodam pela sala, quarto…
De tão velhos já não tem explicação,
forma ou cor.

Ocupam-se com suas correntes,
se dedicam a ela, abdicam.
Mutantes caminham do passado ao futuro, 
de alguém, não pertencem a ninguém.

E eu, aqui!
presa em grades, em janelas
nas noites de insônias intermináveis.
Ingrata. Imperdoável.

E eu, lá!
Sem presente, só fantasmas.
Acordados e barulhentos,
fracos mas destemidos, já que não desistem:
nem de mim e nem de lá.

E eu, imaginada e sonhada.
Amando o que não devia...
assim, sem sem ação, dos verbos 
que transitam pelo seu intransitivo.

Velho fantasma, e eu.
Taças de vinho secas,
largadas… por tantas vidas,
sem casa.

São só velhos fantasmas, e eu.
Andrea Chernioglo



18 de março de 2013

113














Mãos que ao se entrelaçar
parecem ter imãs gigantes,
não se soltam.

Separadas buscam por caminhos
tortuosos, errantes. Atalhos,
se encontram naqueles olhos.

Brilham, reluzem voláteis
Desejos e vontades
Perto, mais perto ainda!

Sorrisos deixam palavras soltas.
Brisas escorregam, roçam
cabelos, corpos e o tecido leve
amado amassado.

Sons ignorados agora parecem  
felizes nas bocas? Boca? Água,
acabam por produzir força. Energia.

Sangue que percorre, corre
recorre ao corpo todo, por inteiro
transfere para a alma resistência.

Resiliência e ambiguidade
agora poderiam ser assim,
um retrato meu.

Andrea Chernioglo


17 de abril de 2012

O tempo



O tempo compõe a melodia do riso
sempre, aos poucos, esculpida por pequenas lascas
dos restos roubados, tirados de mim.
Paciência e ausência com um toque sadomasoquista.


O tempo desenha jocoso o riso,
rebola ao ritmo, orientado em direção a rosa dos ventos,
cercada. Pontos, cardeais crédulos mentem sempre.
Rebolam sem ritmo, estáticos: dentro de mim.

O tempo fantasia o riso
destruído por guerras, do meu sangue 
sem a minha alma, sacrificada.
Na volta da cintura, em torno de mim.
Revolta. Sobram escombros.

O tempo brinca com o riso na ruína
e eu? Do som, lá pareço.
Nuvem de poeira sem rosa, sem vento
ritmo ou movimento ao tempo.

E o tempo chove… Arreigado.
Eu renasço…

Cicatrizes são tatuagens,
adornos dos sonhos esquecidos. Idos.
Marcado tempo, erguido ao som
de uma fantasia do riso.

Andrea Chernioglo

18 de janeiro de 2012

Tantas e muitas de mim


Muitas de mim, que há muito não apareciam por aqui começam a voltar. Devagar, começam a bater à minha porta, algumas parecem entrar pela janela em um vôo razante, outras jamais saíram daqui apenas estavam adormecidas, esquecidas. Há ainda as que estão longe! Bem longe, visíveis, acompanhadas do vento com suas mãos fortes lá no norte, ou será sul?

Sempre houveram muitas de mim, dentro e fora daqui, a ponto de andarem sozinhas pelo mundo sem que ninguém jamais tenha percebido a natural semelhança. Há outras, que de tão profundas, marcadas, escondidas, medrosas e frias jamais foram vistas, nem um traço sequer de seu rostos rotos.

E agora que voltam sem aviso?

Sem convite e aleatoriamente, batem a minha porta, pousam em meus badulaques, vão entrando assim, refletem-se nos espelhos espalhados pela casa e deixam seus corpos balançarem, vagarosamente, à brisa desta noite e daqueles dias. Esquecidas, limpam restos de tinta que usavam para pintar e marcar os seus tantos caminhos, perdidas.

O que faço com tantas e todas elas em mim?

Quem são? Sã, é como saber se quero saber quem já ficou, que nem sei ao certo quem sou eu. Profundamente, quantas são realmente? Parte de mim, despedidas de mim, excessos de mim nas invenções das boas taças de vinho, da mente criativa ou do beijo doce e violento desejoso e enrustido em todos.

Ainda podem voar livres, libertas, cicatrizadas e ao mesmo tempo se manterem presas, inacabadas junto a meus pés que tentam, em vão, caminhar sem parar.

Será que sofrem, amam, gozam, fogem, ficam? Se vão.

Distraídas e já não se movem de tão ou mais envelhecidas do que as que ainda estão na mais tenra infância, sem conhecimentos, acontecimentos inevitáveis e tantas solidões escritas nas palmas das mãos.

Quem sou eu? Quem toca? Quem fala? Não há resposta de quem está lá, de tantas, muitas de mim, nessa grande e única fila abraçadas a suas invejas, seus desejos, suas vontades, suas alegrias, seus gozos, suas ausências e algumas tristezas.

Selvagem, queima, voa. Destemida, unida. Só, solitária junto a tantas e muitas de mim.
De volta a minha porta depois da longa caminhada entre a ponte gigante, imaginária, que sai de tantas de mim até a janela de alguém que, de tão imaginário, se tornou real parte de mim.

Andrea Chernioglo

15 de dezembro de 2011

Aquele olhar


3
O olhar percorre o mundo,
e, um homem é um mundo todo,
que busca em um olhar
suas estrelas mais brilhantes.

Anda, mesmo cansado, à procura
de um outro que bem de perto
já teve próximo, de si, um hábito doce e morno,
na constante de milhares de batimentos inconstantes.

Fantasias.

Encontros em tantos desencontros,
Roçam bocas, braços, pernas em
Clichés urbanos. Alguns tristes
outros nem tanto.

Ambições.

Sonham acordado, ao olhar
dentro de si a imagem que se deixa aproximar.
Se posiciona, aos sons das chuvas que caem
em fertéis sonhos de olhos cerrados.

Arrebatamentos.

Arranca para si e de si, 
a vontade violenta que existe. Enxerga:
olhos, 
onde roçam bocas, braços, pernas.

Andrea Chernioglo

9 de novembro de 2011

Parte de mim

2

Como seria acordar
e ter as mãos vazias,
sem desenhos, sem linhas
ou marcas.

Meus caminhos,
não contariam mais histórias
daquilo que ainda não pode acontecer.

Continuaria vivendo assim:
sem as antigas marcas e,
não teria que me preocupar
com o envelhecimento da nova linha.

Meus destinos,
Poderiam se revoltar?
De ter deixado tantas mãos vazias
de amor, trabalho e coração.

Meu tempo,
deixaria de correr pelas linhas das mãos
e cansado, sem mapa
correria um risco: não chegar ao futuro.

De quem?

Quem?

Um dia, ainda escravo
livre, liberto sem marcas e linhas, desenho ou arte
deixará esse mundo por outro mundo.

Afogado em linhas cruzadas
lá no infinito, finito,
da minha própria mão.

Andrea Chernioglo

7 de novembro de 2011

Uma parte de mim

1
Parte de mim
assim sem despedida,
aceno ou memória.

Encontra a linha,
do horizonte sem um fim.

Mesmo antes da palavra qualquer
palavra, parte de mim!

Grita enclausurada,
com pés no chão e casulos de nuvens
sem forma de flores.

Presente?

Parte distante de mim.
Se encontra um desejo ardente,
e, também, um iceberg imenso.

Parte de mim… Volta para mim!
Mesmo nos excessos de mim.


11 de agosto de 2011

Cataclisma


Sentir um buraco no estômago
parece o abismo sem fim
nada amistoso,
e algumas vezes bem doloroso.

Sentir um peso no meio do peito
deixa abafado e sem respirar
é bem triste,
mas pode ser um chiste.

Sentir os pés formigarem
por tanto tempo parados
é por estarem transtornados
em um sapato vermelho apertado.

Sentir as mãos paralisadas
calma, é sua farsa consistente
que chega a ser indolente,
e suas luvas são inconsitência criativa.

Sentir a boca amarga,
sem voz, grito ou cantiga ruim
queima em mim
e não é ainda o fim.

E o carinho para onde foi?

Esquecido!

Foi parar naquele lugar (aquele mesmo!)
um buraco multidimensional
tanta dimensão desigual,
ficou oval.

E para onde foi o amor?

Escondido?

Onde todas as coisas que foram perdidas
na minha casa, na minha rua e cidade
rumaram empolgadas, algumas nem tanto
em plena luz do dia.

Andrea Chernioglo

19 de junho de 2008

Em algum lugar...


Nasci perdida
sem rumo certo
ou incerto.

O vento algumas vezes diz
quais direções são certas,
ou não.

A luz que nunca
está apenas no fim,
me ilumina estranhos caminhos.

Minha razão deve sempre podar
alguns cantos, pedaços
que vejo como perfeitos.

Meu coração tenta sentir
inexplicáveis alegrias, ilusões
e grita: silêncio.

Meu tempo passa
e, repassa meus sonhos.
E a mitologia?

Carrego os estigmas
da história antiga
e escravizada.

Levo a guerra
na genética e
na alma cicatrizada.

Quero ser algo,
mas não quero
que vejam.

Desejo parecer,
mas não quero
a mentira descoberta.

Nasci perdida
e, como a arte e a obra
serei sempre…

… Incompleta!

8 de maio de 2008

Esboços



Esboços são engraçados...
Poderão ou não se tornarem reais um dia e, esse dia pode ser próximo ou distante de olhares curiosos e irritantes.
Falam muito sobre algo que não desejam falar de verdade, enganam de leve os desatentos.
Acalmam corações inquietos mas não o suficiente...
Sempre deixam a sensação que faltam pedaços, ausências os perseguem, saudades inesgotáveis, almas dilaceradas e, nunca se sentem realmente completos.
Lotam livros, pensamentos, pesadelos, insanidades, poesias, pinturas, algumas vezes, vidas inteiras que se perdem em sonhos esboçados em caminhos tristes e palavras escritas pela metade.

Andrea Chernioglo

7 de maio de 2008

Recomeços...

Início, recomeço…
Tantas vezes é dificil saber qual dos sonhos escolher ou quais formas perpetuarão no céu particular…

Andrea Chernioglo

7 de maio de 2007

Segredo

Segredo (2007): Somos compostos de segredos e ilusões de doces devaneios escondidos num canto de uma alma quieta.
___________

Segredo do caos,

a mente inquieta
de um coração sem ritmo constante
e, gritos em silêncios imaginários.

Confidência do caos,

notícias escondidas em cantos,
de virtudes que esmigalhadas
se iludem como um triste poema.

Mistério do caos,

memórias escritas por desejos vermelhos,
com palavras sem sabor
que foram jogadas no vento frio.

Esconderijo do caos,

na alma transeunte,
perdida em labirintos sem um minotauro
ou fio de Ariadne para encontrar o caminho.

Prisão do caos

por fora, um horizonte apagado
dentro das grades que misturam o lilás
aos desejos que clamam por transformações.

Alquimia do caos

a combinação que já foi perfeita
inexplicável união
do que agora é apenas um.

Segredo.

Andrea Chernioglo

22 de abril de 2007

Pretextos

Pretextos (2007): uma desculpa para sonhar, quase uma súplica no fundo de um coração acelerado, onde há uma busca por um único doce abraço.
_____________________
Delírios;
quantas podem caber dentro de mim?

Crianças nascidas,
aflitas, bem-aventuradas e medrosas,

Meninas amadas,
talentosas, ousadas e disfarçadas.

Mulheres explosivas,
únicas, felizes, destemidas e gloriosas.

Senhoras intuitivas,
crentes, enrustidas e sem conduta.

Velhas desentendidas,
esquecidas, indulgentes e supremas.

Quantos podem nos cobiçar?
Quantos podemos amar até o amanhecer?

Quantos mundos precisarão existir,
para que todas encontrem o seu lugar?

Quanto medo, ainda, se tornará preconceito?
E, quanto preconceito ainda irá nos destruir.


Andrea Chernioglo

11 de março de 2007

Prece de Salvação

Prece de Salvação (2004) A prece é o desejo incontrolável e por onde quer que se ande se leva dentro de si.
Quero abrir meu peito e arrancá-lo de dentro de mim.

Quero cicatrizar essa ferida que não para de sangrar.

Quero lhe tirar da minha mente.

Quero sarar essa doença que tem seu nome.

Quero o antídoto para esse vírus que é você.

Quero bálsamo para a dor que você provoca em meu peito.

Quero ser salva...

Resistência

Resitência (2005): Resistir, manter-se, ficar mesmo que ninguém mais acredite, nem você.

O que há dentro de mim que
Explode, sem controle e destrói,
prestes a se tornar dois, ou quem sabe muitos mas não sabe compartilhar nada.
Que grita desesperado o grito poético, ritmado e sem sentido,
escondido, ignorado e apagado.
Resistente e imunizado a tantas doenças com seu nome único.
Há medo de fora, do externo e pavor do horizonte iluminado pelo amanhecer,
com tantas ilusões criadas ao mesmo tempo, em torno de algo tão pequeno.
Desejos são engolidos pela boca de alguém,
palavras são caladas por uma voz irritante.
Tanta solidão no meio da multidão melancólica,
resistente a um pequeno sorriso,
a um beijo apaixonado,
a uma alma machucada e,
quem sabe até impossibilitada
de resistir.

Andrea Chernioglo

24 de outubro de 2006

Fuga do Casulo - Interno

Fuga do Casulo - Interno (2003)
I
mposto, interno, incongruente, infinito,
musical, colorido, labirinto, luta, sonho
e o tempo por dentro.


Gostaria de ter asas...


E voar para bem longe,

além das nuvens cinzentas

e não encontrá-lo mais.


Para não buscá-lo,

na eternidade das lembranças

de um único sorriso.


Para não desejá-lo,
no intenso brilho

de todos os sóis.


Para não procurá-lo,

nas coincidências estranhas
e explicações
sem convicções.

Gostaria de ter asas...

Para não levá-lo
em todas as cores
que estão d
entro de mim.

Para não tê-lo gravado

em todos os meus sentidos.


Para não vê-lo nas sombras

disformes de outro alguém.


Gostaria de ter asas...
Mesmo que fossem feitas de cera.